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Cisne Negro – O Filme

O cisne negro

Uma avaliação emocional do filme

 

                Este não é um filme para quem esta em busca de diversão por diversão. O glamour e a beleza de uma companhia de bale são bem mais do que isto. É uma representação do comportamento humano de forma densa, pintado com tintas fortes e bem empregado.  É uma analise ricamente escrita e preenchida de sutis detalhes que nos levam a uma busca interior mais profunda através da realidade hostil. Uma auto avaliação profunda, onde os limites entre o bem e o mal, ingenuidade e sedução, são bem tênues. Onde a única realidade aceitável, é aquela em que nossas mentes acreditam quando são confrontadas com nossos medos, limitações, frustrações e disputas.   A ficção toma corpo com o desabrochar de uma mulher de 28 anos de idade que ao ser escolhida para ocupar o lugar de primeira bailarina de uma companhia de balé, enfrenta a angustia das à decisão de se libertar de sua vida infeliz de rotina, submissão, dedicação e renúncia, boa parte incutida em sua mente pela sua mãe Érica (bailarina aposentada), que se vê em sua filha a realização pessoal que nunca teve e a sobrecarrega de cuidados e cobranças, chegando a atos de infantilidade.  Para nina o cisne branco não é nada além do que ela já vive, mas o negro representa a oportunidade de se deparar com uma realidade completamente diferente, mas que esta latente em sua personalidade, gritando para sair.  Chegar a dominar estas duas realidades é o auge da personagem. Todas as emoções afloram de forma desenfreada, em um turbilhão de sentimentos, sensações, medos, culpa e projeções do inconsciente, observadas nas alucinações auditivas e visuais, atos auto lesivos de se arranhar, e atender as expectativas da sociedade, quando se esta beirando o caos de forma tão conflituosa e dramática. Como se achar em meio a isto?

            Sutilmente no decorrer de todo filme, o autor planta de forma inteligente e às vezes invasiva e até audaciosa, as várias formas de relacionamentos interpessoais. As fragilidades emocionais das personagens, suas possíveis falhas de caráter, infrações de normas e princípios, coragem, decisão, determinação, gana e glória latente. A percepção e vivencia de vários sintomas que podem ser encontrados em vários transtornos psiquiátricos, cleptomania, bulimia, delírios de perseguição, traços obsessivos compulsivos, as várias faces da sexualidade, sentimento de inadequação, angustia, manipulações, isolamento social, cobrança excessiva, delimitação de espaço e estilo próprio de ser, são apenas uma roupagem má carregada do que realmente vivemos em nosso relacionamento interpessoal.  Na busca pela perfeição, personificada na execução perfeita da peça o lago dos cisnes, a protagonista interage com uma trama de intriga, eventualidades, inveja, discórdia, ciúmes e necessidade de libertação, encontrada por alguns em álcool e drogas. O inconsciente quase se manifeste de forma real, podendo ser tocado em seus desejos e ambiguidades. A busca pelo estado de equilíbrio se torna cada vez mais difícil e desesperadora, ao passo que o dia da apresentação se aproxima. A busca pela perfeição é árdua e inglória.  As mudanças de humor e de atitudes das personagens refletem na verdade a complexidade maravilhosa do ser humano.  Que oscila entre seu lado bom, aceitável socialmente, e seu lado obscuro, com quem poucos s têm a oportunidade de se permitir confrontar.

 Não é preciso chegar às raias da insanidade para se encontrar realmente, mas a verdade da necessidade de um gatilho bem forte existir é um fato. O filme mostra situações bem mais frequentes do que pensamos, e que acontecem com muitos de nós famosos ou não.  A busca pelo eu interior é uma decisão que geralmente é imposta em momentos críticos da vida. Mesclado por magnificas atuações, o filme chega ao seu auge quando a protagonista se permite personificar as características emocionais, físicas e de atitude de ambos os cisnes (branco e nego/ bem e o mal). Mas como manter  esta ambiguidade por muito tempo exaustiva é insuportável demais, ela encontra o tão almejado reconhecimento, realização e  descanso na morte. Um fim trágico para o cisne branco, porém e triunfante para a bailarina.

por Luciana Conegundes

março 10, 2011 at 10:04 pm Deixe um comentário